Tabelas de composição de alimentos: verdade única?

Um dos maiores dilemas dos profissionais de nutrição e saúde estão relacionado a uma de suas principais ferramentas de trabalho – as tabelas de composição química de alimentos. Qual profissional que no momento da avaliação nutricional, especialmente durante a investigação dietética e ou prescrição nutricional, não se deparou com dúvidas ou dificuldades relacionadas à seleção de alimentos e ou tabelas de composição de alimentos. Para o profissional recém-formado essa incerteza e insegurança se torna ainda mais evidente.

Isto porque, existe, para vários grupos de alimentos e ou alimentos, uma discrepância imensa em relação aos valores nutricionais apresentados pelas tabelas. Além disso, a divergência das metodologias de análises e apresentação dos valores nutrientes comprometem a fidelidade de tais informações, principalmente quando é necessário o empregado simultâneo de várias tabelas de alimentos.

Ribeiro el al (2003) em seu estudo preconiza que: “a tradução dos dados da ingestão dietética utilizando tabelas de composição de alimentos é um processo complexo, sendo que sua interpretação é influenciada pela qualidade destas informações, disponíveis nas bases de dados. Por isso, a composição dos alimentos é uma informação básica para o estabelecimento de diversas ações em saúde, desde a prescrição dietética individual até estudos sobre o padrão de consumo alimentar de determinada população”. É com base nesse teor de nutrientes que se dá a avaliação da dieta, permitindo decidir sobre sua adequação ou inadequação, pontua Ribeiro el al (2003).

O fato é que como qualquer outra ferramenta de trabalho, as tabelas de alimentos apresentam qualidades e ilimitações, acompanhe a seguir algumas considerações sobre as principais tabelas de composição química de alimentos utilizadas no Brasil.

Tabela Brasileira de Composição de Alimentos – TACO – Desenvolvida pela NEPA/UNICAMP é uma tabela que apresenta uma metodologia muito bem definida e estrutura, onde o seu banco de dados é constantemente atualizado. Atualmente está na sua 3ª versão com um total de 597 alimentos, onde o seu conteúdo atende a realidade da população brasileira.

Tabela de Composição de Alimentos – USP – Parte do Projeto Integrado de Composição de Alimentos, coordenado pelo Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas – USP e BRASILFOODS (Rede Brasileira de Sistemas de Dados de Alimentos). Está na sua 5ª versão e apresenta aproximadamente 1500 alimentos, porém, por se tratar de várias tabelas dentro de uma mesma tabela, algumas informações são incompletas para alguns alimentos, também não analisa alguns nutrientes considerados importantes, como o cálcio, sódio, vitamina C e ferro.

Tabela de Composição de Alimentos: Suporte para Decisão Nutricional – Sônia Tucunduva – Grande parte do conteúdo desta tabela foi obtido a partir da consulta a outras tabelas de composição de alimento, sendo este padrão de metodologia uma das principais limitações de tal documento.

Tabela de Composição Química dos Alimentos – Guilherme Franco- Para a compilação dos dados nutricionais foi adotado a seguinte metodologia: foram definidos cinco grupos de tabelas de composição química, onde para cada grupo foram padronizados nutrientes específicos e para cada um desses grupos, alimentos específicos, não sendo adotado um padrão eficiente de metodologia. Por exemplo, não existe uma numeração ou codificação dos alimentos presentes nas tabelas, não ocorrendo a conexão entre alimento-tabela ou tabela-alimento. Além disso, a orgiem das informações nutricionais presente na tabela não se apresenta esclarecida.

Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras- Apresenta o inconveniente de não ter um número significante de nutrientes, inclusive os obrigatórios sódio e fibra alimentar. Apresenta como vantagem em relação a outras tabelas a presença das informações relacionadas a medida caseira dos alimentos, o que facilita muito o trabalho dos profissionais de nutrição.

Tabela USDA (norte-americana) – Desenvolvida pelo departamento de agricultura dos EUA, a USDA tem como principal característica um número elevado de alimentos e a frequência em que os seus dados são atualizados. Todavia, apesar do seu extenso banco de dados, um número significante de alimentos presentes nesta tabela não fazem parte do consumo alimentar da população brasileira. Ocorre também a falta de padronização das abreviações e apresenta alguns erros de grafia, o que compromete a confiabilidade de suas informações, principalmente quando a tradução se faz necessária.

Com base nestas informações é possível concluir que não existe uma tabela considerada100% ideal, todas são dotadas de qualidades e limitações, o que compete ao nutricionista é ter uma visão crítica quanto a qual utilizar, segundo a sua necessidade.

Adriana Lopes Peixoto – Consultora Nutricional da A.S.Sistemas

Marceli Almeida Mendonça – Estagiária de Nutrição da A.S.Sistemas

Referência Bibliográfica

RIBEIRO, Pérola et al. Tabelas de composição química de alimentos: análise comparativa com resultados laboratoriais. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 37, n. 2, abr. 2003.

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